domingo, 15 de maio de 2011




Dona

Não sou santa

Nem mansa

Nem pura

Nem a cura

Sou a doença

Presença

Crença

Traço torto

Mão trêmula

Que desenha

Tua carne

Não rezo

Peco

A cada olhar

Quero tudo

Não compreendo nada

Conheço teu sexo

Familiar

A me estreitar

Sou desgovernada

Desafinada

Descarada

Não sou justa

Perco

Sinto falta

Brinco

Na ponta de meus dedos

Lembro teu desejo

Na minha língua

Está o teu gosto

Nas minhas narinas

Teu cheiro vadio

É tarde

As horas pequenas

Meu desejo vaga

A cada passo teu

É só desejo

Fúria a toa

Da qual eu sou a dona

sábado, 14 de maio de 2011

Arte de Sandro van Gogh


“Vem, amor...”


A pele era alva, etérea, como um pedaço da lua, contrastando com o cabelo negro. O corpo sinuoso, suave, ocultando uma sensualidade que me deixou com os sentidos em alerta. Minha libido insinuou-se com ousadia pelas frestas do meu corpo que se agitou frenético.

Minhas mãos ficaram úmidas quando o corpo dela movimentou levemente o corpo como numa dança leve, tão silenciosa que podia-se escutar seus músculos ao distender-se. Uma luz tênue, vinda de um abajur, deixava o ambiente imerso num clima de um romantismo barato. Meus olhos acostumando-se com a penumbra, deparam-se com a blusa translúcida que delineava a pequinês de seios de menina, que fez meus sentidos saltarem ensandecidos. A muito custo acalmei-me procurando não precipitar nada.

Relembrei como cheguei até aquele momento; a solidão, os amores mal resolvidos, as noites de sexo solitário e as infindáveis insônias que resultavam num cansaço no dia seguinte. Tudo isso me atormentava de tal maneira que nem trabalhar conseguia mais, até que um amigo sugeriu-me um encontro com uma mulher e assim afastar o estigma da solidão, mas assegurou-me que devia ser um encontro as escuras porque seria mais emocionante, mais excitante. Mas essa condição assustava-me muito, o evento tanto poderia ser bom quanto desastroso, e uma decepção programada seria o que de pior poderia acontecer no estado em que me encontrava. Mas concordei convencido pelos argumentos de meu amigo.

E lá estava eu, e ela a minha frente, com um corpo delicado e puro e uma aura de pecado dando voltas em torno do corpo como um espectro da promiscuidade. Estático e extasiado temia até respirar temendo que aquela fosse uma visão dos meus anseios e assim sendo desaparecesse. Engoli em seco quando lentamente ela levou às mãos alvas a barra da blusa e foi deslizando-a pelo corpo, libertando seios pequenos, brancos, eretos com bicos rosados que apontavam na minha direção tal a rigidez deles. As axilas pareciam vales, côncavos pedindo para serem beijados, não antes de minha boca voraz e sedenta devorar aqueles montes macios e indefesos que eram os seios. Ao fazer tal movimento, minhas narinas detectaram um odor caracterísco; o cheiro de sexo, que há muito eu não sentia denso, mesclado a um cheiro de suor quase imperceptível, que me enlouqueceu por completo me fazendo sentir como um animal no cio. Pressenti flashes de momentos de um sexo luxurioso e pecaminoso, como todo sexo deve ser. Envolto num desejo entorpecido e volátil, escutei uma voz clara e suave que invadiu meu interior, dizendo num sussurro:

- Vem, amor...

Senti-me completamente perdido.



Que homem é esse?


Que só vem de vez em quando
E que me deixa esperando
Com essa falta de ar


Que bicho é esse?

Que me inflama
Quando diz o meu nome
quando me chama
E que tanto me consome
Sem saber o que pensar

Que homem é esse?

Com essa sede de amasso
No compasso dos seus pés armados
Que me toma nos seus braços
Num impulso do sentir
Deixando-me cicatrizes
Como uma meretriz

Que homem é esse?

Que me vem fora de hora
Que me vira do avesso
Incendeia minha paixão
Mastigando meu tesão
Devorando minhas entranhas


Que homem é esse?

Que me beija e me acaricia
Deixando-me na mais louca euforia
Que me afaga falando
Com seu tom dominante
Rasgando minha carne.

Que homem é esse?

Que vem e misterioso me enlouquece

Que homem é esse?

Que só vem de vez em quando
E depois desaparece
Deixando-me com essa falta de ar


Que bicho é esse?

Que não sofre
que não ama
Que por mim não clama


Que homem é esse?

Que me vem fora de hora
Sem espera, sem estória
E me impede de partir...

Que homem é esse?

Que me faz fêmea descarada
Mesmo não estando preparada
Que me põe num cio permanente
Tornando-me tão demente
Fazendo meu fogo aumentar
Para o prazer prolongar.

Que homem é esse?

Que vem clandestino
Sem estória
E me impede de partir...


Que homem é esse?
Que mulher sou eu?

Quem sou eu

Minha foto
Uma mulher que respira arte e prazer.